terça-feira, 30 de setembro de 2014

Testemunho de um voluntário em Lichinga


Começo este artigo sobre a minha experiência de voluntariado missionário em Lichinga, Moçambique, fazendo uma apresentação de quem sou.

O meu nome é Paulo Lima, sou natural da cidade de Póvoa de Varzim e tenho 25 anos. Trabalhei no ramo de restauração desde os meus 18 anos, começando aos 16 anos a servir à mesa em casamentos e batizados em toda zona norte do país. Contudo, gostando de servir as pessoas e de as ver felizes porque, como se diz, “a verdadeira felicidade vê-se após uma boa refeição”, nunca me senti uma pessoa realizada a nível pessoal, sempre senti que podia dar mais do que uma boa refeição. Então, em 2012, ocorreu-me uma ideia “porque não sirvo eu o irmão que mais precisa do meu serviço?!”. Após esta ideia procurei encontrar um rumo que me levasse ao que tanto me faltava: uma experiência que me satisfizesse e desse um sentido correcto à minha vida.

Comecei por contactar o Seminário Missionário Padre Dehon em Rio Tinto, seminário que frequentei no meu 9º ano de escolaridade e que me ajudou a perceber o sentido da palavra “Valor”. O Valor que todos temos como seres humanos, independentemente do que fomos e do que somos.  Entrei em contacto com o Irmão José Camacho que rapidamente me direcionou para  falar com o Sr. Padre Adérito Barbosa a quem coloquei todas as minhas dúvidas e intenções e questões relativamente à ALVD.  Esta primeira ajuda por parte deste meu irmão e amigo José Camacho foi muito importante na minha vida.  Após o contacto com o Pe Adérito Barbosa, logo entrei na Associação participando em actividades e formações, embora sinta que falhei algumas vezes faltando a algumas formações por causa dos meus empregos, foram formações muito importantes e que me ajudam bastante para não me “perder” por cá em Moçambique e são agora o meu guia nunca me afastando dos seus ensinamentos e colocando sempre em prática o que aí aprendi.

Após 2 anos de formação chegou o momento de passar à prática e partir em missão. Em Agosto, parti para uma experiência de voluntariado missionário em Lichinga,  capital da província do Niassa, no norte de Moçambique. Aguardava-me trabalho a nível Pastoral, com crianças duma escolinha, com um grupo de jovens juntamente com Irmã Maria José e em 2 bibliotecas, uma na casa da Diocese de Lichinga e outra no centro Pastoral também cá de Lichinga.

Está a ser uma óptima experiência, estou a gostar bastante mais do que pensava vir a gostar e já sinto que futuramente terei que fazer uma outra Missão, mas desta, se tivesse oportunidade, gostaria que fosse em Angola.

Esta experiência está a mostrar-me muitas novas coisas e estou a aprender bastante. Os primeiros tempos têm sido um pouco complicados, a mentalidade do povo é muito diferente da que estava habituado em Portugal e noutros países europeus, mentalidade esta que proporciona, por vezes, momentos cómicos. Logo no meu primeiro mês por cá reparei que as pessoas não são capazes de seguir o estimulo do cérebro e aplicá-lo com as suas próprias mãos. Problemas simples, mas em vez de simplificarem, complicam ainda mais. Noto bastante isso a nível tecnológico: apesar de terem boa tecnologia existe uma grande falha na formação profissional, deste modo qualquer avaria não se repara, apenas se abandona. Também reparei que há bastante desperdício por parte de muitos trabalhadores, por exemplo ao nível das instalações eléctricas, não são capazes de fazer cabos com uma medida próxima do necessário, deixando muitas vezes metros e metros de cabos enrolados nos postes. Cabos estes que dariam para muita coisa mas acabam por virar desperdício ficando nos postes ao abandono em vez de os usarem noutros postes e noutras casas.

Mas também vejo por cá muitos aspectos positivos tal como a união dos jovens. É algo que me alegra ver todos os dias os jovens unidos em diversão e alegres a vir da escola ou a ir para missa, também vejo um espírito de entre-ajuda que já não é habitual na nossa sociedade, as pessoas ajudam-se mutuamente não conseguindo ver um irmão mal.

Está a ser uma experiência muito grande e importante para mim. Sinto que estou a aprender bastante mais do que aquilo que estou a conseguir ensinar, não só com o povo mas mesmo com as pessoas ligadas à diocese com quem lido diariamente.  Pessoas que não irei esquecer e que  se estão a tornar cada vez mais valiosas para mim. No dia em que regresse ao meu país irei sentir muito a falta das suas presenças na minha vida, do convívio, dos risos e da sua ajuda pois todos  os dias, nesta que é agora a minha casa, a casa da Diocese de Lichinga, me sinto acolhido e seguro com estes meus irmão e irmã que um dia me irão fazer muita falta e deixarão muitas saudades disto tudo.

Acabo este meu artigo agora pois não sou muito bom a expressar-me por escrito mas, tal como uma pessoa especial, que me pediu para escrever, me disse: “escreve o que te vai na alma”. Bem ou mal eu escrevi tudo o que cá dentro tenho guardado sobre Moçambique e  como ainda tenho mais meses para guardar cá dentro, quem sabe voltarei a escrever um novo e mais completo artigo. 

Paulo Lima