terça-feira, 16 de novembro de 2010

ALVD Madeira: Sempre em Movimento

Um grupo de 15 pessoas ligadas à ALVD reuniu-se no dia 13 de Novembro de 2010 no Colégio Missionário (Funchal) durante todo o dia. Já no dia anterior, o presidente da ALVD tinha feito entrevistas a alguns candidatos a voluntários para terras de África.

O encontro de sábado começou com uma saudação inicial do Superior do Colégio Missionário (P. Leandro), o qual mostrou uma abertura inédita e de louvar, ao acompanhar os trabalhos de grupo, praticamente, durante todo o dia. Não era de esperar outra coisa de um homem que tem uma forte experiência missionária.



Seguiu-se uma reflexão do P. Adérito, onde procurou fazer ver que os voluntários participam nestas missões, não como ajudantes dos missionários, mas como participantes do carisma dos institutos. E como esta relação leigos-consagrados tem uma grande consistência eclesiológica, vincada pelo Concílio Ecuménico Vaticano II, tentou consciencializar os leigos voluntários que são enviados pela Igreja e são testemunho, neste caso, do carisma do P. Dehon. Insistia o P. Adérito que o leigo voluntário dehoniano não se pode alhear da espiritualidade dehoniana.
Apresentou ainda alguns dados estatísticos da intervenção da ALVD em África de 2000 a 2010.

Foram ainda apresentados alguns vídeos das experiências ALVD realizados em África neste ano de 2010: ANGOLA, GUINÉ, MOÇAMBIQUE (LICHINGA e MOLÓCUÈ).

Sugeriram-se algumas estratégias para o futuro: Congressos Regionais ALVD 2012 com a presença do Provincial de Moçambique e de Portugal: Lisboa, Madeira, Porto.

Há ainda a possibilidade de preparação de grupos para intervenção em África em 2011: Luau e Viana (Angola), Molócuè, Lichinga (Moçambique).

Abordou-se ainda a questão da angariação de fundos; o envio de livros; elaboração de materiais para venda: cruzes dehonianas, agenda para 2012, entre outros.

Informou-se ainda as pessoas de sites e blogues que podem consultar:

www.alvd2010-2020.blogspot.com; www.familiadehonianaemportugal.pt.vu

www.dehonianos.org; www.aderitus.pt.vu; www.diocesedelichinga.blogspot.com

Depois do almoço, o presidente da ALVD passou a tarde a receber voluntários que querem fazer a experiência em África.

A Sónia Camacho e o Pedro Lenine Jesus apresentaram um vídeo da sua experiência de voluntariado durante um ano no Centro Polivalente Leão Dehon, no Gurúè.

Agradecidos ao Colégio Missionário por esta excelente hospitalidade, cada um começou a rumar para as suas casas, tendo sido necessário o P. Leandro encontrar uns cabos para que a bateria do carro da Guida ressuscitasse e assim pode partir tranquila para a Calheta.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O testemunho de três jovens na imprensa arouquense




AVELINO VIEIRA

Moçambique, ou deverei dizer Província do Niassa?! Pois, quem ouve falar em Moçambique é capaz de pensar na capital (Maputo) e não se lembrar do restante país.
A verdade é que no Niassa vemos um mundo completamente diferente, muita pobreza e condições quase nulas.
Mas ao ver que o povo de lá vive tão tranquilo – não tendo praticamente nada é tão feliz e alegre – cheguei à conclusão que vivo numa comunidade com um povo ingrato, que por mais que tenha nunca fica satisfeito. Nós somos assim, podemos não ter noção mas se reflectirmos acabamos por assumir.
O que mais gostei foram as crianças que corriam todas atrás de mim acreditando que eu era Jesus e tocavam-me no cabelo, na barba e na pele muito admirados, uma situação comovente no momento...
O que me tocou mais profundamente foi ver tantas crianças. Fui a um centro de nutrição, onde vi crianças órfãs e desnutridas. Um centro que espera há 3 anos por ajuda do Governo moçambicano.
Outra situação também chocante é a quantidade de albinos que vi, muitos deles fugidos da Tanzânia, onde são discriminados e mortos para supostamente os seus órgãos serem convertidos em medicamentos para a cura de várias doenças nesse país. Existem assassinos que os perseguem para retirar partes dos seus corpos e que depois utilizam em magia negra, alguns até acreditam que trazem sorte e riqueza. No entanto, esse não é o único perigo que eles correm, são muito vulneráveis à luz solar devido à falta de pigmentação na pele, cabelo e olhos, mas andam como pessoas normais, acabando por apanhar cancro da pele.
Apesar de ver coisas que nunca pensei serem possíveis, adorei a experiência.
Fui muito bem recebido e acolhido, o que não imaginava antes de lá chegar.

Dos 27 dias que lá estive, fiquei com a sensação que fiz muito pouco mas acho que ao conhecer um mundo tão diferente e pessoas tão diferentes... cresci!

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::



CARLA MONTEIRO

Quando cheguei a Lichinga não consegui falar e quando o fiz disse para a Rita: Amanhã vou embora, não vou aguentar aqui…
O tempo foi passando. Os projectos que tínhamos preparado cá foram postos em prática. E ensinámos, aprendemos, partilhámos!
A segunda semana foi em Mossangulo, sem água, sem luz e com o anoitecer às 17h. Foi, sem dúvida, muito marcante porque, apesar de não termos as condições a que estávamos habituadas, conseguimos dar a volta à situação e demos muita alegria àquelas crianças e a um adulto em especial.
De uma forma geral, todas as crianças que vi tinham um sorriso encantador, expressivo, alegre.
Contentavam-se com carrinhos construídos por eles, com coisas que apanhavam nas lixeiras.
Passámos um dia num orfanato. À noite, no fi m de jantar, estávamos a fazer a avaliação do dia como era hábito) e não consegui falar. As lágrimas caiam sem parar.
Só via os rostos daquelas crianças sem nada, mas tão meigas e carinhosas que a minha vontade era arregaçar as mangas e dar-lhes tudo o que tinham direito na sua condição de crianças!

Venho de lá com uma certeza: se todas as pessoas tivessem a coragem de fazer o pouco e o possível, este mundo não seria tão injusto.
E eu tenho a certeza que o fiz!

Por último, quero agradecer a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, me ajudaram a levar esta missão até ao fim.

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

RITA SOUSA

O primeiro dia foi uma mistura de sensações: cansaço, choque e saudade. Mas rapidamente se dissipou e se transformou em alegria e afectos.
A formação às monitoras em Lichinga correu muito
bem. Sentimos bastante interesse e que a nossa experiência não estava a ser em vão. Estava a ajudá-las a crescer enquanto profissionais que trabalham com crianças. Foi uma partilha muito enriquecedora, não só a nível profissional como a nível pessoal.
As condições, muitas vezes, não eram as mais agradáveis. Mas até isso nos fazia rir da situação e, hoje, já tenho saudades.
Passámos uma semana no mato, em Mossangulo.
Foi a experiência mais marcante. Muitos órfãos, o dialecto era diferente, não tínhamos luz nem água…
Mas quando acordava tinha uma vontade enorme de ir trabalhar e ir brincar com aquelas crianças de olhos grandes e expressivos.

Em África o povo marca muito. A mim marcaram-me as crianças. Estou muito saudosa por isso. Vou voltar!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Viagens de um voluntário ALVD - Moçambique

Relato de João José Pereira da Silva Antunes


As comunidades a que assiste a missão Dehoniana no Alto Molócuè são 297.
Pela quantidade de comunidades e pelo reduzido número de padres de que a missão dispõe resulta que por ano serão visitadas mais ou menos duas vezes.

Neste último fim-de-semana foram visitadas cinco dessas comunidades.

No sábado, numa delas, foi celebrante um sacerdote diocesano natural da Argentina que está estagiando nesta missão e que ainda este ano regressará ao seu País. Na segunda comunidade esteve um acólito, que será ordenado Diácono ainda no corrente ano, a fazer a celebração da palavra. Na terceira comunidade estiveram dois padres. Um deles não celebra em virtude dos seus 87 anos de idade - mas quer sempre acompanhar. Nesta terceira comunidade estive eu também.

Para lá chegar, partimos às 7 da manhã e foram percorridos 37 km, sendo os primeiros 20 em alcatrão. A duração da viagem foi contudo de aproximadamente uma hora.

Gostaria de partilhar com quem tem a paciência de me ler o que é estar nestas comunidades, mas tal é indescritível. Só vendo.

A população sai-nos ao caminho. O sacerdote abranda o carro para que a população nos acompanhe. Os cânticos e as palmas não param. Chegados à Igreja é-nos dado um aperto de mão, em três movimentos, por toda a assembleia. Fui rodeado por todos até o Padre estacionar. Imaginaram-me padre. Desta deslocação fiz três vídeos em momentos diferentes. Um precisamente à chegada, outro já no final da eucaristia em que foram apresentadas as boas-vindas com muita música decorrendo também a leitura de um pequeno texto. O terceiro vídeo documenta o que no final foi a procissão de ofertas para o Padre. O pouco quem têm partilham. Grande lição de humildade e solidariedade nos dão.

Uma chaga desta sociedade é o alcoolismo - claro que também temos esta chaga mas outros meios para a combater. Na homília o sacerdote falou dela.

Como a homília é partilhada resolvi sugerir que iniciassem encontros periódicos com essas pessoas que tenham vontade de deixar de beber cuja orientação ficará a cargo de algum responsável local. Foi aceite a ideia e o Padre disse que, quando ali voltasse, gostaria que houvesse resultados positivos.

No final houve confissões e um encontro de jovens. Queriam que eu fosse o orientador. Claro que chamei o responsável para orientar pois eu estava ali mais para aprender. Fui muito questionado. A todas as questões procurei responder.


Acabada esta visita, fomos banqueteados, digo bem, banqueteados. Havia três tipos de arroz, batata frita, frango assado e guisado e salada de alface e tomate, tudo em grande quantidade. Diz o sacerdote que em 20 anos que leva de Moçambique nunca foi assim recebido. Ali foi a sua primeira visita.


 
No final voltaram os apertos de mão e acompanhamento até à estrada sempre a cantar.

No Domingo fomos mais perto. Visitámos duas comunidades. Na primeira ficaram o acólito, um sacerdote e uma voluntária seguindo o restante para a segunda comunidade.

O ritual foi igual ao do sábado. A única diferença esteve na participação deste grupo de jovens que esteve muito fechado. Estranhei que não me tivessem feito perguntas. Provavelmente não lhes consegui transmitir confiança.

É tudo por hoje e até ao próximo encontro.

João José Pereira da Silva Antunes

Viagens de um voluntário ALVD na Zambézia - Moçambique

Relato de João José Pereira da Silva Antunes

O presente relato traduz a minha vida de uma semana passada em redor das missões dehonianas





Na segunda-feira, dia 18, partimos em visita às missões dehonianas na Província da Zambézia. Eu, a voluntária Maria e os padres Domenico, italiano e Miguel, argentino.

Foi um percurso superior a mil quilómetros em que apenas uns cento e cinquenta foram em piso alcatroado.

Partimos muito cedo. Eram 5.15 horas.

Lavávamos connosco, pois dormiu nessa noite na nossa casa, um rapaz colocado na missão do Gurúè, o João de meu nome, ao abrigo de um qualquer acordo com o IPPAR, sendo os encargos da missão o alojamento, alimentação e lavandaria. Ali chegados pude rever tanta gente que conheci em 2005/2006. Foi realmente uma festa.

Deixado este hóspede partimos em direcção a Namarrói onde almoçámos. São dois padres Moçambicanos que tomam conta da missão. Como falta o dinheiro - só têm da diocese um valor equivalente a 20 € - têm de dar aulas no ensino oficial para poderem sobreviver. Daqui auferem cerca de 60€. Não chega para reparar as instalações, a viatura que está encostada às "boxes", etc.

Rumámos ao Gurúè onde revi outras pessoas. Ali jantámos e pernoitámos no noviciado, uma obra que estava em construção em 2006. Apesar de instalações recentes já se notava a necessidade de alguma intervenção.

Seguiu-se a missão do Ile, também abandonada e em ruínas. Os padres, neste caso Moçambicanos, estão a viver numa outra casa que lhes foi doada por portugueses.

Dirigimo-nos em direcção à missão de Nossa Senhora de Lurdes de Mulevala. Esta missão foi recuperada pelo Padre Domingos, Moçambicano, que visitei em 2006, e que veio a falecer tragicamente de acidente quando regressava a casa depois de ter ido levar uma doente ao Hospital de Quelimane. Actualmente estão lá dois padres moçambicanos, um deles o Padre Sigome, que tive o gosto de receber em minha casa por duas vezes. Aí almoçámos do que levávamos pois esta missão vive em extrema dificuldade não apenas pela pobreza em si mas porque a morte do Padre Domingos, que também recebi em minha casa, deixou muitas dívidas e os actuais padres desconhecem as fontes de financiamento que existiam.

Dali nos encaminhámos para a missão de Mocubela, também ela ao abandono e sem padres.

Pebane foi a missão seguinte.

Aí permanecem dois padres Moçambicanos. Um, o Padre Barnabé, esteve também comigo em minha casa.

É sempre uma alegria encontrar estes amigos.

Nesta missão pernoitámos duas vezes.

Fomos recebidos "principescamente" apesar da pobreza reinante.

No dia seguinte à chegada, na véspera chegámos à noite, foi o nosso único descanso.

Fomos à praia. Pela primeira vez na vida vi o Oceano Índico. Praia realmente bastante limpa - também as pessoas que a visitam são raras. - Água espectacular, onde ainda nadei um pouco. Maravilhosa temperatura. Ao sair da água fui correr um pouco tendo de imediato a companhia de um jovem que foi desfiando as dificuldades existentes. Curiosamente não pediu nada.

Nesta missão pude constatar que há alguns jovens, que têm o nome de vocacionados, que não podem ingressar no Seminário porque as famílias não têm sequer o valor que lhes possibilite a inscrição, ou seja, a propina. Foi-me dito que há muitas outras missões onde isso acontece.

Após a segunda noite em Pebane continuámos a nossa visita.

Passámos por Moalama onde visitámos as antigas instalações, a decaírem actualmente, pois aí também não há padres.

Verificamos que em cada missão havia sempre a igreja, de um lado a casa dos padres e do outro a casa das irmãs. Havia ainda, por regra o Hospital da missão. Todos estes hospitais foram nacionalizados e estão hoje ao serviço como centros de saúde. De condições não vou dizer nada.

Rumámos ao Nabúri onde a situação é igual. Nesta missão, com um muro a servir de mesa almoçamos o resto que nos sobrava.

A missão seguinte dá pelo nome de Gilé.

Aqui existem dois padres, um brasileiro e um indiano, ambos Claretianos.

Passámos aqui a noite, tendo também jantado.

Rumámos à missão seguinte, tendo de atravessar o rio, como fizéramos na véspera, por uma "ponte" sempre a ver quando é que ficávamos encravados, o que estava a acontecer com uma carrinha quando chegámos pelo que aguardámos um pouco até que ela conseguisse passar.

Esta situação da travessia está a acontecer desde há algum tempo prevendo-se que ainda no corrente ano terminará a construção de uma nova ponte.

A missão seguinte dá pelo nome de Moneia.

Igualmente está ao abandono embora os Claretianos estejam já a providenciar a vinda de dois dos seus padres, que serão um brasileiro e um indiano.

A África incorpora um "batalhão" de Claretianos pois existem mais de seiscentos, não sei se sacerdotes apenas ou também religiosas e leigos.

Pusemo-nos a caminho em direcção a Muyana.

Coincidiu esta visita com a presença do Bispo da Diocese, D. Francisco Lerma, missionário da Consolata, que, quando chegámos, estava a celebrar a eucaristia campal e a administrar o Sacramento do Crisma.

Chegámos, dirigimo-nos à residência e fui, de máquina em punho, documentar um pouco a cerimónia.

O padre brasileiro viu-me e associou-me de imediato à nossa chegada pois estava alertado dela. Quando me dirigia para o carro para ir buscar a minha inseparável água, ouço alguém atrás de mim a dizer bom-dia. Respondi do mesmo modo mas nem me virei pois imaginei alguém já a querer pedir alguma coisa. Era o padre que abandonou o altar e veio para saber se éramos quem estava à espera. Dirigiu-se de novo ao altar. Volvidos uns instantes volta a sair do altar dirigindo-se à casa para mandar acrescentar o "tacho" para mais quatro.

Ao almoço aproveitei a ocasião para conversar com o Sr. Bispo sobre a questão dos vocacionados que querem ir para o seminário e não têm dinheiro para o fazer. Ficou com o meu contacto e vai-me informar sobre os custos da formação destes alunos no Seminário para ver se consigo arranjar algum "padrinho" de seminarista, à semelhança do que acontece com as crianças.

De seguida passámos por mais uma missão, Alto Ligonha, ao abandono sendo a próxima estação o regresso a casa.

Foi uma experiência maravilhosa embora extremamente cansativa."