Conheço a realidade Moçambicana pelas vezes que visitei o país, pelo que não estranhei. Embora não conhecesse a província do Niassa, em nada é diferente das outras províncias de Moçambique.
É uma terra onde falta sobretudo conhecimento e a população está bem consciente desse problema e deseja-o. Percebi através do contacto que estabeleci com as pessoas que embora sendo um povo simples sabem o que é essencial para o desenvolvimento do país: mais conhecimento, e melhor informação.
Nesse sentido, o projecto no qual fui inserida foi bastante útil, pois actuou na base da educação, com os mais pequenos. É através do estímulo e desenvolvimento das crianças que se consegue prepará-las para as aprendizagens futuras.
Nas escolinhas um dos grandes problemas dos educadores é não terem materiais adequados para poderem desenvolver as actividades próprias e inerentes ao desenvolvimento da criança.
Outro grande problema é a informação/formação que necessitam para melhorarem o seu trabalho enquanto educadores. A Internet existe e está disponível, no entanto, não há recursos financeiros que permitam o acesso à mesma.
Gostava de ter ficado mais tempo, pois na formação em que participei faltou tempo para a consolidação de conhecimentos. Ou então o projecto deveria ter outro formato, de forma a permitir esta consolidação de conhecimentos.
Apesar de nunca ter trabalhado com crianças não senti dificuldades em interagir com elas e desempenhei com muito entusiasmo todas as actividades. O ritmo de trabalho foi muito intenso, pois rapidamente percebi que era importante passar o maior número de informação possível.
Nos momentos de exaustão física, que houve, valeu-me as palavras do Pe. Nuno que no último domingo antes da partida para Moçambique que me disse: “quando estiverem cansados pensem em todos os que cá ficaram e vos ajudaram nesta vossa missão”.
Estas palavras ajudaram-me a esquecer o cansaço e aumentaram a minha capacidade de entrega e de sacrifício mesmo nos dias em que estive doente, pois embora o corpo pedisse algum descanso e as dores incomodassem, a disponibilidade para o outro pesou mais forte.
Foi muito importante a preparação feita em Portugal, pois apesar te ter mais de 20 anos de experiência como formadora, nunca tinha trabalhado na área da Educação Infantil tendo sido de maior relevância as pesquisas que fiz na área e as orientações que me foram dadas por algumas amigas Educadoras de Infância.
Constatar a capacidade de entrega e de serviço por parte de algumas pessoas com quem contactei no Niassa, reduzem a minha participação como voluntária neste projecto a uma gota de água no oceano. Sei que todas as gotas de água são importantes e por isso estou disposta a ir muitas mais vezes.
Sentir o agradecimento de um povo só pela simples razão de eu estar lá e poderem partilhar comigo alguma da sua cultura foi também muito gratificante, fez-me sentir bem e integrada na comunidade.
Perante os novos desafios do projecto não tive qualquer dificuldade em prepará-los e em executá-los, pois a minha experiência profissional e as minhas características pessoais permitem-me ter esta capacidade de adaptação e concretização.
Do meu contacto com as crianças e os jovens constatei que os livros de leitura e os filmes em português são muito desejados. Na aprendizagem dos jovens faz falta quem lhes dê explicações em áreas mais específicas como por exemplo a matemática.
Senti que apesar de termos o projecto bem preparado, podíamos ter rentabilizado melhor a participação de cada um. A necessidade que alguns voluntários tiveram de não estarem sozinhos a desempenhar algumas tarefas, deixou-me o sentimento de desperdício de tempo. Já que o nosso tempo era curto deveria ter sido rentabilizado ao máximo.
Ao nível das relações humanas tive de lidar com pessoas diferentes o que é normal quando se trabalha em equipa. Os problemas foram sempre resolvidos, com mais ou menos discussão, é certo, mas sempre nos momentos próprios, isto é, durante as reuniões de avaliação diárias e nunca à frente de terceiros.
Não saí zangada de Lichinga com ninguém. Tive algumas reacções de quem já finalizou o projecto e já só quer descomprimir e reage “em família”. Na minha família, às vezes, discutimos e temos reacções mais emotivas, mas ninguém fica zangado com ninguém. Durante um mês fizeram parte da minha família as 3 voluntárias que estiveram comigo no projecto das escolinhas. É assim que as sinto.
O que mais recordo neste grupo das 4, é a camaradagem, o espírito de inter-ajuda, as boas gargalhadas que fomos dando ao longo do mês e o êxito do nosso projecto.
Linda Furtado
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