terça-feira, 31 de janeiro de 2012

ALVD em Vila do Conde

Na quarta feira, dia 25 de Janeiro, decorreu um jantar de trabalho em Vila do Conde. Este tinha dois objectivos: tomar consciência do ponto da situação das 200 caixas de livros que estão no Porto e ainda não seguiram para Lichinga; o segundo objectivo consistia em ouvirmos um pouco da experiência da Rita em Lichinga. Mas como o P. Adérito estava a chegar de três meses em África no terreno (viagens habituais em chapa), abafou a intervenção da Rita com as suas entusiasmadas aventuras.



Conclusão: temos que fazer um novo encontro e convidar o pessoal todo da ALVD do Norte para ouvirmos a Rita.

A. Barbosa

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ALVD… de Lisboa


No passado dia 22 reuniu, no seminário Nossa Senhora de Fátima, em Alfragide, um grupo de 20 candidatos/as com o objectivo de se prepararem para integrar os próximos grupos de voluntários que vão partir em missão para Moçambique ou Angola.

O início deste encontro foi marcado por uma celebração eucarística, presidida pelo padre Adérito Gomes Barbosa, presidente da ALVD, recentemente regressado de uma viagem a Moçambique. O padre Adérito partilhou com o grupo as necessidades mais urgentes nas comunidades em que servimos em espírito de voluntariado: alfabetização, formação na área da educação e saúde, dar continuidade às bibliotecas já instaladas e participar na pastoral local.

O padre Luciano e a Maria Helena partilharam um pouco do como se iniciou este serviço de voluntariado pela ALVD, na EBIG Escola Básica Industrial do Gurué - e que neste momento é também o Instituto Médio de Agronomia.



Todas as pessoas presentes se apresentaram e partilharam o seu desejo de partir em missão, disponibilizando as suas competências e saberes para dar aos outros algo das suas vidas. 
O próximo encontro ficou marcado para o dia 26 do mês de Fevereiro.

Helena Calado

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ecumenismo em geral

No mês de Janeiro, costuma-se celebrar uma semana pela unidade dos cristãos e pela unidade das religiões em geral. Por isso, escrevi este apontamento que apresentei aqui em Nampula, aos casais, famílias e outros leigos, ligados à Companhia Missionária.



1. A religião em números 
O mundo tem 6.542. 824.000 habitantes. Só na Ásia, o hinduísmo, o budismo e o islamismo atingem um bilião e seiscentos milhões de pessoas. Hoje, no mundo 1.166 milhões são católicos. Na Ásia, com mais de metade da população mundial, os cristãos não chegam a 4%. Os católicos são menos de 3%. Mais de metade dos católicos da Ásia, vive nas Filipinas (50 milhões de católicos). Na China (1.200 milhões de pessoas) e na Índia (900 milhões de pessoas), a presença cristã não chega a 1%. O número total de Bispos, padres e diáconos no mundo era, em 2001, de 439.850, número que supera os 406.509 de 1961.

2.Ecumenismo é o processo de busca da unidade. Num sentido mais restrito, emprega-se o termo para os esforços em favor da unidade entre igrejas cristãs; num sentido lato, pode designar a busca da unidade entre as religiões.

Os dicionários  definem ecumenismo como movimento que visa à unificação das igrejas cristãs (católica, ortodoxa e protestante). A definição eclesiástica, mais abrangente, diz que é a aproximação, a cooperação, a busca fraterna da superação das divisões entre as diferentes igrejas cristãs. Do ponto de vista do cristianismo, pode-se dizer que o ecumenismo é um movimento entre diversas denominações cristãs na busca do diálogo e cooperação comum, buscando superar as divergências históricas e culturais, a partir de uma reconciliação cristã que aceite a diversidade entre as igrejas. Nos ambientes cristãos, a relação com outras religiões costuma-se denominar diálogo inter-religioso.

O termo ecumenismo espalhou-se nos ambientes eclesiais como o relacionamento entre as igrejas cristãs divididas, em ordem a superar as divergências teológicas, de aproximar os cristãos das diversas denominações e cooperar com a paz mundial.

Em 1908, os anglicanos Spencer Jones e Lewis Thomas promoveram oito dias de oração pela unidade dos cristãos entre 18 de janeiro (Festa da cátedra de São Pedro) e 25 de janeiro (festa da conversão de São Paulo). Posteriormente, Watson converteu-se ao catolicismo e foi instituído na Igreja Católica a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos neste mesmo período. A Conferência Missionária Mundial, em Edimburgo, em 1910, é considerada o marco do ecumenismo: a busca da unidade entre as igrejas cristãs.

Entretanto, o papa Pio XI via com suspeita estes movimentos e publicou em 1928 a encíclica Mortalium animos, que afirmava que a única igreja verdadeira é a igreja romana e que a salvação só pode ser alcançada pelo regresso a ela.

Em 1948, foi criado o Conselho Mundial das Igrejas - CMI, que reuniu inicialmente 197 denominações. No âmbito desta organização, o termo ecumenismo designa os esforços entre Igrejas com vista a uma reconciliação cristã que aceite a realidade da diversidade das diversas igrejas cristãs.
"Trabalha-se para que estas divisões sejam superadas de forma que se possa realizar o desejo de Jesus Cristo: de que todos os seus seguidores estivessem unidos, de assim como Ele e o Pai são um só."
A Igreja Católica incorpora-se oficialmente ao movimento ecuménico a partir de 1960, quando o papa João XXIII criou o Secretariado Romano para a Unidade dos Cristãos. Este organismo participou activamente no assessoramento ao papa e aos bispos durante o Concílio Vaticano II, além de ajudar os padres conciliares na elaboração do decreto Unitatis Redintegratio de 1964, do Papa Paulo VI. Este decreto define o movimento ecuménico como uma graça do Espírito Santo, considera que o carácter ecuménico é essencialmente espiritual e estabelece que o olhar da Igreja Católica é dirigido às igrejas separadas do Catolicismo: as Igrejas Ortodoxas e as Igrejas Protestantes.

O Papa Paulo VI instituiu diversos grupos de trabalho na linha do diálogo inter-religioso: o Secretariado para os Não-Cristãos, a Comissão para o Diálogo com os Judeus e o Secretariado para os Não-Crentes.

Adérito Gomes Barbosa scj

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Anchilo

Anchilo é um centro catequético dos padres combonianos a cerca de 20 kms de Nampula, da estrada que vai para Nacala/ilha de Moçambique, aberto para encontros de formação e retiros de espiritualidade.

Cheguei a Ancillo no dia 2 de Janeiro de 2012 para orientar o retiro às missionárias da Companhia Missionária, subordinado ao tema: Profecia. Laicidade. Secularidade. Vieram de Nampula, de Quelimane e de Maputo.

O centro é constituído por uma casa central e, depois, mais de quarenta casas no meio das árvores, tendo cada um delas três, quartos individuais. Assusta um bocado, porque é tudo escuridão e podem aparecer bichos de que não gostamos muito. Então, quando não há luz nos quartos, a situação é ainda um pouco mais complicada.

Depois de nos colocarem nos quartos (a mim coube-me uma casa no meio das árvores, autêntica floresta), lá fomos para a missa inicial, na igreja, cheia de formigas voadoras, autêntica peste. As mais pequenas chamam-se térmitas; as maiores chamam-se npepe e depois de voarem 10 minutos, perdem as asas, e caem e pouco depois morrem. Estas grandes servem para cozinhar com arroz e têm o sabor a marisco. Dizem os entendidos.

Onde estão os fósforos?

Disse à missionária italiana Lisetta para acender a vela. Veio à sacristia procurar fósforos. Abre gaveta, fecha gaveta… não encontra. Diz-me ela: somos nós as velas. Sim. Mas acesas ou apagadas?
Não é que olho para a vela no altar e a caixa de fósforos está ali mesmo ao lado. Lisetta! Afinal, fomos tão longe à procura de fósforos e eles estão mesmo aqui à mão.
Pois, ou se procura as coisas onde estão ou é inútil procurá-las.


Horários…

Sr Padre, gostávamos de confissões?
- A que horas? Às 10h ou às 11h?
- Preferimos às 10.00h, mas vamos perguntar aos padres a que horas podem vir ajudar a confessar.
- Ok.
- Os padres podem vir confessar na 6ª feira às 11h
- Ok.
- No dia seguinte, às 10.00h estavam os padres para confessar.
- Mas não era às 11h?
- Sim, disse a Lisetta.
- Às 11h, começamos e não vieram os que diziam que vinham às 11h.
- Só pelo meio dia, depois de tudo ter terminado, apareceu um padre disparado a pensar que ainda encontrava a igreja aberta e pessoas para confessar.
- Já acabamos as confissões e as cerimónias. Dissemos às 11h. É meio dia.


Compromissos…

Mas o mais interessante mesmo foi o último dia do retiro. Pelas 11h, na adoração, quatro jovens raparigas (Ana Rita, Lurdes, Isabel e Adelaide) assumiram publicamente o compromisso de fazerem uma caminhada, em ordem ao discernimento para vida consagrada secular. Sabes o que é a vida consagrada secular? Não?
Já, na eucaristia da tarde, duas jovens (Laina e Dalaina) assumiram o compromisso de fazerem um biénio de formação. Seguiu-se a renovação dos votos da Julieta, Helena e Gabriela. Cerimónia simples, mas significativa, pelos vários compromissos assumidos.


Adérito Gomes Barbosa, scj
Nampula, 9 de Janeiro de 2012

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Passagem de ano? Não vi

Toda a gente fala da passagem de ano. No entanto, aqui em Nampula falhou a luz. Portanto, não vi a passagem de ano. Estava às escuras. E as lanternas são tão pequenas para se poder ver uma coisa tão grande como o ano de 2011.

Chegou 2012 e a chuva forte, com formigas voadoras. Cá estou em Napipine, na paróquia de S. Pedro, entregue aos dehonianos. Estes dias de Natal estava cá o Superior (famoso P. Elias, etnólogo), o P. Ricardo e o P. Emílio Jorge que veio de Quelimane para ajudar neste período de Natal.

Como eu já conhecia a comunidade de S. Pedro, Murrapaniua, S. Paulo, então hoje fui à comunidade de Nairuku, perto da Quinta de Nairuku. Falta-me visitar ainda a comunidade de Nahene.
Sempre acompanhado por Fausto e mais duas aspirantes da Companhia Missionária, lá fomos a Nairuku: capela pequena, mas com 120 pessoas na missa do dia 1 de Janeiro.


Lá rezamos e cantamos. Quando estava para terminar, perguntei se queriam dar algum aviso. Disseram que só no final da missa. Quando terminei a missa, então o aviso que tinham era para eu dizer quem era.

Depois de me ter apresentado, um homem disse que queria fazer uma pergunta. Eu disse que perguntasse. Ele referiu que a ideia voou naquele momento e já não podia fazer a pergunta. Mas não derrotado, disse que me viu em 1970 na Zambézia. Eu disse que fui à Zambézia pela primeira vez em 1974. Alguma coisa não bate certo. Pois.


Quando voltávamos para casa, parei num semáforo vermelho. No sentido contrário, um carro apitou. Eu não estava a perceber. Quando o semáforo ficou verde, eu arranquei. E do outro lado passa um carro. Afinal era um polícia o que apitava. Atira mal humorado: você não tem olhos. Eu disse que tinha e que tinha parado no vermelho, porque tinha olhos. Lá continuou a sua viagem a vociferar… Ai pobre mulher, a dele.

Sempre com o Fausto, a Isabel e a Lurdes, fomos visitar o monte Muhala –Expansão, onde tomamos um lanho (água de coco verde que dizem que é como o soro).
E voltámos para casa almoçar, já que há tarde havia mais missas…

Adérito Gomes Barbosa
Nampula, 1 de Janeiro de 2012

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

NATAL 2011 em Napipine

Nestes dias de Natal, tenho recebido da Europa muitos emails e mensagens de telemóvel, frases feitas, slogans batidos. Até um email com uma imagem do presépio e por baixo vinha escrito feliz natal de 2010. É isso. A pessoa foi buscar a mensagem que mandou o ano passado e nem se deu ao trabalho de mudar a data. É natal repetido.

Aqui em Napipine, bairro de Nampula com quase 100.000 habitantes, tudo é diferente, novo, criativo.
Nas vésperas de Natal, pediram-me para ajudar a confessar. Deixei de lado os trabalhos da universidade e virei só pastor, padre. Interessante as confissões. Quando terminavam a lista dos pecados em português ou macua, diziam: terminei de falar. Para mim era óptimo. Assim sabia quando terminavam, pois macua não é o meu forte.

Cá o P. Ricardo dizia que na missa da noite de Natal, entrávamos às escuras e depois acendia-se a luz. Pois. O problema é que desapareceu a luz pelas 18.00 horas e a missa era às 20.00h. Entrámos às escuras, glória às escuras e por aí adiante. Eu ia aguentando a lanterna que trouxe da Decathlon para o P. Elias poder ler as orações.

Na escuridão, proferiu uma homilia toda encarnada e inculturada, não fosse ele o melhor etnólogo da região. Entre outras coisas dizia… o boi no presépio respeita o seu dono, mas o burro respeita quem lhe dá de comer. Para bom entendedor…
E assim tudo prosseguia na escuridão, mas muito animado com cantos e danças. Sim. Estou a falar da Eucaristia da noite de Natal.


Quando estávamos na acção de graças veio a luz. Ainda bem. Antes de acabar a missa veio o homem dar os avisos. Entrou preocupado dizendo que durante a missa que foi às escuras, roubaram o menino Jesus do presépio e pediu que restituíssem o menino Jesus ainda ali na celebração. Roubaram o menino Jesus de Napipine? Todos na igreja soltaram um grito de espanto. Mas eis que de repente, aparece um acólito com o menino na mão. Todos queriam saber quem tinha sido o ladrão. Então o P. Ricardo foi ao microfone e disse que não tinha sido roubado. Apenas estava no armário da sacristia.
Acabada a missa, viemos para casa, onde comemos um bacalhauzinho, enviado pelo correio pela Stela, de Loulé, de Portugal. Eu, o P. Elias, o P. Emílio e o P. Ricardo não deixamos nada na travessa. Segundo o P. Ricardo, grande cozinheiro, o bacalhau esteve muito tempo de molho. Eu, cá para mim: muito ou pouco, comi e estava bom.




Dizia o P. Elias em tom de quem gostou do bacalhau: sabe sempre a aperitivo…
E depois de nos dar a cada um pequeno presente, trazido pelas irmãs salesianas, fomos repousar que o dia de Natal ia ser duro.
(…)
No dia de Natal, os outros três padres saíram para celebrar o Natal noutras comunidades. A mim coube-me em Napipine, na paróquia de S. Pedro às 8.00 horas da manhã. Tinha um pequeno acrescento: é que eu tinha que fazer 41 baptizados, segundo o P. Ricardo. Lá fomos para a celebração. A igreja estava cheia. Pudera. Dia de Natal. Napipine. Baptizados. Tudo isto ajuda a encher ainda mais.
Tudo estava perfeitamente organizado. Parece-me que temos de aprender não só como as formigas fazem o moché, mas também a organização dos moçambicanos. Até havia um segurança, com a identificação a pôr as pessoas em ordem na igreja.

Quando chegou a altura dos baptizados, todos eles se colocaram em fila no corredor da igreja. Comecei por juntar dois ritos: o sinal da cruz na testa e a unção pré-baptismal.
Fazia primeiro eu, depois mandava os pais e padrinhos. A uma certa altura via só homens a fazer o sinal da cruz. Perguntei: e a mãe? Já morreu, disseram. Calei-me interiormente. Mais à frente já depois de uns tantos sinais, talvez por cansaço, já ia fazer o sinal da testa da mãe em vez da criança. Às vezes, mandaram-me parar, porque eu não tinha reparado que estava uma criança no meio deles, aos meus pés…algumas crianças gritavam, outras estavam caladas e outras a dormir… nesse aspecto não difere da Europa.

Depois do sinal da cruz eu ungia com o óleo pré-baptismal. Não é que uma mãe também achou por bem, molhar o polegar no óleo e benzer a sua filha com óleo…Eu cá para mim: daqui a pouco estão a rezar a missa no meu lugar. E assim continuou a cerimónia dos quase 41 baptizados.

Depois de acabar os ritos do baptismo, a missa ia continuar com a dança do ofertório que leva algum tempo. Sentei-me a suar e como não me pareceram 41 baptizados perguntei ao ministro da Palavra (sim aqui são todos ministros com túnica) quantos eram os baptizados afinal? São 30 respondeu-me categoricamente. Perguntei ao do outro lado que me respondei também com uma pretensa convicção que eram 32. Afinal, eram 41, 30 ou 32? Fiquei ainda mais baralhado. Que eram mais do que muitos lá isso eram. Está bem. Fiquei resignado. Até que chega um acólito com um bilhetinho escrito a dizer que os baptizados eram 31. Então temos mais uma tese: 41, 30,32 ou 31? Como não vêm assinar o livro de registo dos baptismos, fico com quatro versões para usar quando quiser.

A missa continuava muito viva. Na acção de graças, houve a dança das mulheres: linda, linda. A dança claro. Estavam no corredor da igreja duas filas de mulheres a dançar. A uma certa altura levantam-se muitas das que estavam sentadas nos bancos e começaram elas também a dançar.

Seguiram-se os avisos. Entre outras coisas, o avisador disse que quem quisesse as fotografias do baptismo podiam ir buscá-las ao alpendre no fim da missa. Toda a gente começou a rir. Eu percebi. Primeiro vão ver as fotografias na máquina digital e se gostam pagam antecipadamente e as fotografias ser-lhes-ão entregues dois dias depois…


Lá terminei a eucaristia com uma saudação final, dizendo que o dia do Natal é festa, mas não com a carne do cabrito roubado, mas com o que cada um tem. Eu tinha referido na homilia que uma vez alguém para fazer festa foi roubar um cabrito. Dizia que o Natal é manifestação de fé inquebrável como uma coluna de cimento. Disse também que há o dia da mulher, da criança, do homem, do pai, da mãe, da família, mas não há o dia dos filhos. O dia dos filhos é o dia de Natal. Jesus, filho de Deus. Nós, filhos de Deus.


Terminei a celebração e pedi ao ministro da Palavra para dar o menino a beijar.
Vinha a correr para casa, porque estava um sol incrível e eu não tinha levado chapéu: ainda cumprimentei quem encontrei pelo caminho e vinha para casa, quando me chamaram. Era uma senhora idosa. Trazia um saquito na mão. Ela disse que era para os padres. Abriu. Era uma garrafa de champanhe. Disse ela: é da família Raul. Quem é a família Raul? É uma família de Napipine que tem um filho padre diocesano no Gurué (P. Daniel), uma filha freira das irmãs mercedárias. Alí estava a velhinha a dar-me a garrafa. Ao lado, estava a filha com uma criança nos braços. Vive em Maputo e a criança ainda não foi baptizada. Vieram visitar a mãe. Depois apareceu o filho Basílio que trabalha em Pemba. Pela conversa percebi que trabalha com a Doutora Madalena Baptista de Coimbra (seu pai dava educação física aos alunos do Instituto Missionária) que comigo fomos os dois primeiros doutorados em Ciências da Educação pela Universidade Católica em Portugal.

E assim foi o princípio da manhã do dia de Natal com a missa a começar às 8.00 horas e a terminar às 10.30 da manhã…

Adérito Gomes Barbosa, scj
Nampula, dia de Natal de 2011
NB. As fotografias referem-se ao auto-de Natal que antecedeu a missa da noite de Natal.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

ALUKHU

Esta manhã, o P. Elias, o P. Ricardo, o P. Emílio Jorge e eu saímos às 7.45h da manhã e fomos confessar os cristãos de Murrupaniua aqui a 5 kms, comunidade conhecida pelos voluntários dehonianos que estiveram aqui em 2008. O carro foi por uma estrada que para mim não era mais que um pequeno leito de um rio seco. Mas conseguiu chegar até à igreja, construída pelo italiano, P. Afro. Mal chegados, vimos muita gente. Cada família a cozinhar frango, peixe, fora da igreja. O que é isto? É alukhu responderam. A palavra alukhu significa criança ou noviço.


Em África, há muito tempo que existem os chamados ritos de iniciação para os rapazes e para as raparigas, cada um em separado. Fundamentalmente, consiste em instruções, práticas e ritos para preparar os rapazes e as raparigas para a vida adulta, sempre no sentido de depois terem filhos para continuarem a descendência dos antepassados. Entre as actividades, aprendem a caçar, indo para a floresta. É um assunto que muitos não querem falar, já que entram questões sexuais (para as raparigas, a mutilação e para os rapazes a circuncisão). No entanto, hoje já há mais respeito pelas raparigas, continuando a circuncisão nos rapazes.




É uma tradição muito enraizada no meio do povo. Praticamente, quem organiza hoje aqui é só a Igreja Católica, mas vêm muçulmanos e de outras religiões, como a religião tradicional.

Assim, depois de termos confessado, eu e o P. Elias, grande etnólogo entendido nestas coisas, entramos na barraca onde estavam os 105 adolescentes, alguns ainda crianças. Começou a circular a ideia de que estes ritos iam acabar. Então as famílias com medo, mandam os seus filhos ainda bastante crianças para estas cerimónias. Entraram para a barraca a 24 de Novembro e saem a 24 de Dezembro. O último dia é considerado um grande dia de festa. Pois todos os que fizeram esta iniciação são considerados adultos, maduros e responsáveis.




É também um negócio que mexe dinheiro pago pelos padrinhos. Este dinheiro vai para os que vêm dar conselhos, uma parte para o régulo e uma parte para quem organiza.

E às 9.00 horas da manhã estávamos a regressar, para eu poder continuar a corrigir os projectos de doutoramento em Ciências da Educação.

Adérito Gomes Barbosa
Nampula, 23 de Dezembro de 2011